No mundo da internet, empresas já nascem multinacionais
Acostumados a lidar com diferentes
culturas, empreendedores europeus são mais bem preparados para lidar com
emergentes do que os bem financiados do Vale do Silício
Em 2007, quando Alex Ljung, um empresário poliglota, fundou o serviço de
compartilhamento de músicas online chamado SoundCloud, em Estocolmo,
ele sabia que a empresa precisava de uma estratégia de expansão
internacional desde o princípio. A empresa não possuía um grande mercado
nacional, nem acesso a uma grande quantidade de desenvolvedores de alto
nível.

Alex
Ljung, cofundador da empresa de compartilhamento de música SoundCloud,
no escritório em Berlim: empreendedores de europeus são mais bem
preparados que americanos
Alguns meses depois que a empresa foi aberta, Ljung e seu
sócio, Eric Wahlforss, se mudaram para Berlim, para ficar mais perto de
muitos dos maiores mercados da região e para aproveitar a grande
comunidade de startups da cidade. Neste ano, ele começou a entrar no
mercado dos Estados Unidos, arrecadando US$ 50 milhões em investimentos
feitos pela Kleiner Perkins Caufield & Byers, a gigante do capital
de risco do Vale do Silício, e por outras empresas.
Ljung, que nasceu em Londres e foi criado na Suécia, divide
seu tempo entre a Alemanha e os Estados Unidos. "Era óbvio que nossa
empresa precisava ser global desde o princípio", afirmou. "Nós somos
mais cidadãos da internet que cidadãos de um determinado país."
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Com o mercado europeu espalhado por mais de 50 países e com a
economia do continente lutando sob o peso de sua crise, as startups são
forçadas a se tornarem globais desde sua fundação. À medida que os
mercados internacionais, em especial as economias emergentes que crescem
rapidamente, se tornam mais importantes para o crescimento das
startups, os empresários europeus esperam que sua experiência em
mercados estrangeiros os ajude a competir contra seus rivais dos Estados
Unidos, que estão mais bem estabelecidos e têm maior acesso a
financiamentos.
"O DNA dos europeus contém uma mentalidade global" afirmou
Saul Klein, um dos sócios da Index Ventures, empresa de capital de risco
com sede em Genebra, que deu apoio a algumas das mais famosas startups
europeias, incluindo o Skype e a rádio virtual Last.fm. "Grandes
empresários podem vir de qualquer lugar. Até mesmo startups de pequenos
países podem competir no cenário global."
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Enquanto o Vale do Silício continua a dominar o setor do
capital de risco, cidades como Londres, Paris e Berlim estão atraindo
grande quantidade de investidores e startups na área de tecnologia e em
outros setores como os serviços financeiros e a moda. O bairro do East
End, em Londres, que abriga os jovens empresários da cidade, registrou
aumento de 40% no número de startups no ano passado, de acordo com as
estatísticas do governo britânico.
As empresas jovens nas grandes capitais europeias têm acesso a
mão de obra global e poliglota, acostumada a se movimentar entre
diferentes idiomas e culturas. Universitários bem educados estão mais
dispostos a trabalhar para novas empresas, uma vez que as grandes
companhias não estão contratando com a mesma intensidade durante a atual
crise econômica. Desde 2008, a Criteo, empresa com sede na França que
ajuda as empresas a venderem para clientes online, passou de uma equipe
de 20 pessoas para 500 funcionários de mais de 15 nacionalidades, em
seus 15 escritórios ao redor do planeta.

"Nós nos tornamos uma empresa global", afirmou Jean-Baptiste Rudelle,
um dos fundadores da Criteo, que se mudou para a Costa Oeste para
gerenciar as atividades da empresa nos Estados Unidos. "Ainda somos uma
empresa europeia, mas com uma presença internacional."
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A nova geração de startups europeias ainda precisa trabalhar
duro, em função da atual situação econômica da região. Os volúveis
mercados de capital fazem com que seja mais difícil para que as empresas
abram seu capital, e muitas grandes empresas evitam gastar suas
reservas com a compra de startups.
Os investidores de risco também diminuíram seus investimentos.
Startups com sede na Europa captaram ao todo 762 milhões de euros em
recursos no primeiro trimestre deste ano, queda de 41% em comparação com
o mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Dow Jones
VentureSource, que analisa o setor de capital de risco. A captação de
recursos para startups nos Estados Unidos caiu 18% durante o mesmo
período.
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A despeito da fraqueza econômica, Kristjan Hiiemaa, fundador da
empresa de softwares para e-commerce, Erply, continua a progredir.
Iniciada em Tallinn, na Estônia, em 2009, a empresa tem hoje com
escritórios em Londres e Nova York e espera dobrar sua base de clientes
para 100 mil até o fim do ano. A Erply conta com uma grande quantidade
de empresas da Fortune 500 entre seus clientes, incluindo o PayPal, do
eBay, e a empresa de cosméticos Elizabeth Arden.
"Em Nova York ou Chicago, ninguém se importa com o fato de sermos
da Estônia", afirmou Hiiemaa. "Temos uma equipe internacional e nossos
clientes são do mundo todo."
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A capacidade de conquistar novos clientes em lugares distantes pode
se tornar mais importante à medida que as startups concentram seu
crescimento nos mercados emergentes. Os países ocidentais ainda são os
que mais atraem a atenção dos empresários. Mas os analistas afirmam que o
crescimento da classe média em países como a China e o Brasil está
forçando as empresas a desenvolver estratégias antes de seus
concorrentes nacionais, que frequentemente copiam as ideias comerciais
das startups ocidentais.
Para competir nessas economias em desenvolvimento, as startups
precisam estar dispostas a mudar rapidamente seus negócios, alinhando-os
às culturas e línguas nacionais. Depois de se expandir com sucesso para
esses novos mercados e superar as dificuldades de conquistar os
clientes estrangeiros, startups europeias como a SoundCloud e a Erply
acreditam que estão em um lugar vantajoso.
"Agora, os produtos são internacionalmente atraentes desde o
princípio", afirmou Danny Rimer, sócio da Index Ventures no Vale do
Silício, que investiu em ambas as empresas. "A vantagem da Europa é que
as empresas já sabem como se adaptar a novos países."